Economia compartilhada obriga setor de seguros a criar outros tipos de apólice
Empresas ampliam coberturas para atender os usuários de plataformas como Uber e Airbnb
02 Jul 2018
O carro que era particular passou a ser usado para transportar passageiros. A casa que acolhia só a família agora hospeda desconhecidos e pode servir até de escritório.
A popularização de plataformas como Uber e Airbnb e o aumento dos adeptos do trabalho em casa têm feito as seguradoras diversificarem os seus produtos.
"Precisamos oferecer serviços que respondam ao surgimento das novas tecnologias", diz Mario Cavalcante, um dos diretores da Liberty Seguros.
Uma das modalidades recentes da seguradora é a cobertura de home office.
O plano engloba danos e roubos de equipamentos, além de disponibilizar uma central de atendimento para auxiliar em problemas de computadores, smartphones e tablets. E, se acontecer alguma catástrofe que impeça o escritório de funcionar, como um incêndio, o seguro repõe os lucros perdidos.
Na lista dos profissionais que procuram a cobertura estão arquitetos, engenheiros, fotógrafos, consultores, advogados e contadores —os valores mudam de acordo com os objetos segurados.
Para quem não transformou a casa em escritório, mas permite que ela funcione eventualmente como hotel, também há seguros específicos.
Desde 2017, a Tokio Marine passou a incluir em um de seus produtos voltados para residências os imóveis disponibilizados em plataformas de locação como o Airbnb.
De acordo com a seguradora, trata-se da modalidade mais completa e cara —o preço é cerca de 50% maior na comparação com seguros de indenização menor e que não aceitam o aluguel temporário.
Tanto os novos clientes como aqueles que já têm o seguro residencial devem avisar a sua seguradora sobre o cadastro nas plataformas, afirma Danilo.
"Assim, evita-se que seja caracterizada a alteração da natureza da ocupação sem prévio conhecimento."
Não avisar a seguradora sobre o tipo de uso do objeto é prática comum no mercado de aplicativos de transporte.
"De todos os motoristas de aplicativos que me procuram, somente 10% acabam mudando a apólice. O restante continua como se fosse carro particular, porque a diferença de preço ainda é muito grande", afirma o agente de seguros Paulo Brito, no mercado há mais de 15 anos.
O valor da apólice, diz Paulo, pode mais do que dobrar na mudança do uso de carro de passeio para comercial.
Após mais de duas décadas no segmento de gráficas, a crise fez com que Célia Cantieri, 57, colocasse seu carro na rua para transportar passageiros. Mas, antes de ligar o aplicativo, ela viu o preço do seguro do seu Chery QQ subir de R$ 1.200 para R$ 3.000.
"Ficou ainda mais caro porque precisei parcelar o valor, mas não tive coragem de sair sem seguro", conta Célia, que trabalha 12 horas por dia.
Sem dinheiro para trocar de apólice, muitos motoristas têm optado por empresas de monitoramento como Car System e Ituran.
Especialistas no rastreio de veículos, essas companhias fazem parceria com seguradoras e oferecem um produto com preço competitivo para apólices com indenização em casos de furto e roubo.
"Conseguimos um valor até 50% mais baixo porque o produto não tem cobertura parcial e nem carro reserva", diz Roberto Posternak, diretor comercial da Ituran Brasil. "Hoje, 20% das procuras diárias são de motoristas de aplicativos", afirma.
Na Ituran, o seguro de um Renault Logan —comum nos aplicativos— sai por R$ 193 ao mês, mais R$ 299 de taxa de instalação do aparelho de monitoramento. A cotação levou em conta o seguinte perfil: homem de 33 anos com garagem em casa que mora na zona leste de São Paulo.